Um poema é aquele texto cujo significado não pode ser dito a não ser daquela maneira, afirmou Ferreira Gullar nesta entrevista.
É uma tese ousada, que desafia o senso comum, tão acostumados que estamos a entender um discurso qualquer por meio de um outro que o explique, como se uma coisa valesse pela outra. Merece uma boa discussão.
Se aceitamos a ideia do poeta, podemos questionar de que serve a leitura crítica de um poema se o seu significado não pode ser expresso de uma outra forma. E o que dizer da tradução? Impossível.
Mas a definição do Gullar tem o mérito de revelar de que padecem os poetas em seus devaneios líricos: a troca de uma palavra apenas, uma só vírgula que mude de lugar, um ponto final que se ponha ou se tire, a recorrência de um som ao longo de um trecho, um verso com uma sílaba a menos, etc. - qualquer uma dessas pequeninas coisas pode alterar o significado de um poema.
De certo modo, essa não é uma experiência estranha às nossas conversas do dia a dia, quando bagunçamos e zoamos as falas uns dos outros com essas manobras minúsculas.
Na oficina de um poeta, no entanto, tais manobras são subatômicas, nanomovimentos que podem mudar todo o humor e o sentido de um texto - na música, um sujeito assim é aquele que tem um ouvido absoluto.
Do ponto de vista do leitor, no entanto, a teoria do Gullar talvez não resista a um simples teste empírico: como dizer que o poema é o tipo de texto cujo significado não pode ser dito de outra forma se, graças à ambiguidade de que vive a própria poesia, cada leitor costuma atribuir a um mesmo poema um significado diferente e só seu?
Mesmo assim, não se passa pela cabeça de ninguém mudar a forma de um poema consagrado, como se com isso ele pudesse ser melhorado sem deixar de ser o mesmo poema.
Só me pergunto - e, com a pergunta, eu fico por enquanto - se esse respeito todo se deve à natureza do poema ou a uma regra social que nos manda venerar monumentos.
É uma tese ousada, que desafia o senso comum, tão acostumados que estamos a entender um discurso qualquer por meio de um outro que o explique, como se uma coisa valesse pela outra. Merece uma boa discussão.
Se aceitamos a ideia do poeta, podemos questionar de que serve a leitura crítica de um poema se o seu significado não pode ser expresso de uma outra forma. E o que dizer da tradução? Impossível.
Mas a definição do Gullar tem o mérito de revelar de que padecem os poetas em seus devaneios líricos: a troca de uma palavra apenas, uma só vírgula que mude de lugar, um ponto final que se ponha ou se tire, a recorrência de um som ao longo de um trecho, um verso com uma sílaba a menos, etc. - qualquer uma dessas pequeninas coisas pode alterar o significado de um poema.
De certo modo, essa não é uma experiência estranha às nossas conversas do dia a dia, quando bagunçamos e zoamos as falas uns dos outros com essas manobras minúsculas.
Na oficina de um poeta, no entanto, tais manobras são subatômicas, nanomovimentos que podem mudar todo o humor e o sentido de um texto - na música, um sujeito assim é aquele que tem um ouvido absoluto.
Do ponto de vista do leitor, no entanto, a teoria do Gullar talvez não resista a um simples teste empírico: como dizer que o poema é o tipo de texto cujo significado não pode ser dito de outra forma se, graças à ambiguidade de que vive a própria poesia, cada leitor costuma atribuir a um mesmo poema um significado diferente e só seu?
Mesmo assim, não se passa pela cabeça de ninguém mudar a forma de um poema consagrado, como se com isso ele pudesse ser melhorado sem deixar de ser o mesmo poema.
Só me pergunto - e, com a pergunta, eu fico por enquanto - se esse respeito todo se deve à natureza do poema ou a uma regra social que nos manda venerar monumentos.
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